OS BRICS SAÍRAM DE MODA, OS MINTS ESTÃO COM TUDO E O BRASIL CAIU PARA O
"QUINTETO CAPENGA". COMO
CHEGAMOS A ISSO?
Marcos
Coronato
Há
13 anos, o economista britânico Jim O"Neill criou a sigla Bric para designar Brasil, Rússia, índia e China.
O"Neill se aposentará do banco Goldman Sachs, mas continua um empolgado
vendedor do potencial das nações em desenvolvimento. Bric soa como
"tijolo" em inglês, e ele afirmava, no início dos anos 2000, que
esses quatro grandes países seriam as novas peças fundamentais na construção e
sustentação da economia global. Hoje, os Brics estão rachados. A Rússia se
revela um regime hostil ao investidor estrangeiro e o Brasil cresce pouco. Para
piorar, ganhou popularidade, em 2013, um outro apelido engraçadinho para tentar
agrupar países em desenvolvimento cheios de diferenças entre si. Novamente, o
grupo inclui o Brasil - mas, desta vez, o rótulo não tem nada de elogioso.
Aos
olhos de alguns investidores, estamos entre os Fragile
Five, os Cinco Frágeis - que, por respeito à sonoridade original,
chamaremos aqui de Quinteto Capenga. Formam o quinteto Brasil, África do Sul,
índia, Indonésia e Turquia. A fragilidade vista neles por especialistas é a
vulnerabilidade a uma eventual fuga de dólares para outras paragens, mais
especificamente os Estados Unidos (analistas mais assustados já incluem na
lista Chile, Hungria e Polônia - o grupo viraria Edgy
Eight, os Oito na Beirada). O apelido do quinteto original foi
apresentado ao mundo pelo banco americano Morgan Stanley, num relatório em
agosto. O banco convida o investidor a apostar na queda das moedas desses cinco
países, que enfrentam "alta inflação, grandes saldos negativos em
transações internacionais, perspectiva desafiadora de ingresso de capitais e
crescimento fraco". 0"Neill, sempre um defensor dos Brics, questiona
essa tese. "É interessante, mas não tem muito sentido. É esperado que
economias emergentes tenham esse déficit", afirmou a ÉPOCA. "Eu só me
preocuparia com África do Sul e Turquia. Nos outros três (incluindo o Brasil),
os deficits são fáceis de financiar se os países tiverem crescimento forte ou
políticas melhores." Mesmo assim, o apelido pegou.
Não
se pode negar que o saldo negativo do Brasil nas transações internacionais (no
jargão técnico, déficit em conta-corrente) cresceu bastante de 2012 para 2013.
O avanço foi de 2% do PIB para 3,6%, um nível superior ao da maioria das nações
em desenvolvimento. Mas pode-se questionar, a esta altura, a pertinência das
siglas que tentam agrupar países distintos por causa de alguns traços comuns.
O
ajuntamento de países em desenvolvimento sob apelidos engraçadinhos não precisa
seguir nenhum critério rígido ou com pretensões acadêmicas. Indonésia e
Turquia, que aparecem entre os cinco capengas ao lado do Brasil, também formam
os Mints, grupo considerado promissor, composto de México, Indonésia, Nigéria e
Turquia (voltaremos a eles adiante). Nos últimos anos, além dos Brics, campeões
de popularidade, entraram no debate econômico os Civets,
ou Colômbia, Indonésia, Vietnã, Egito, Turquia e África do Sul (civeta, em
português, é um pequeno mamífero famoso por encarecer grãos de café, ao
ingeri-los e defecá-los semidigeridos). Foi uma contribuição da seriíssima
Economist Intelligence Unit para o mundo das siglas engraçadinhas.
O"Neill, inventor do Bric, difundiu também os Next-11,
para designar outros 11 países promissores. Os quatro maiores entre eles -
México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia - logo ganharam um apelido à parte,
o ruim de pronunciar Mikt ou a versão mais fácil, Mist ("neblina",
na tradução do inglês. Ou "estrume", em alemão). O"Neill, hoje,
prefere tirar a Coreia do Sul dessa conversa, já que o país disparou à frente
dos outros e é praticamente um país desenvolvido. Depois da moda dos Brics, o
Brasil também foi elogiado ao ser incluído pelo banco Barclays Capital entre os
AEM, mercados emergentes avançados. Foi a melhor
sigla em que já entramos: o grupo inclui países bacanas, desenvolvidos ou quase
lá, como Israel, Taiwan, Cingapura e Chile, todos com instituições mais maduras
e confiáveis do que a média dos países subdesenvolvidos. Nem os países europeus
escaparam da onda de apelidos. Antes e durante a crise, aqueles que pareciam
oferecer mais risco de dar calote (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha)
foram juntados na agressiva sigla Piigs, que soa
como "porcos" em inglês, ou na preconceituosa Gipsi, que soa como "ciganos". No fim, as preocupações
com as contas desses países eram pertinentes, a despeito do mau gosto dos
acrônimos.
Como
se vê, a proliferação de siglas, se não chega a ser uma ciência exata, tampouco
é desprovida de sentido. Cada tentativa de agrupar nações atendendo a um ou
outro critério nos ensina algo sobre como os investidores, emprestadores e os
especialistas do mercado financeiro, especialmente nos países ricos, enxergam o
resto do mundo. Para o Brasil, que depende de capital externo, essas
interpretações sempre importaram muito. Neste momento, elas ganham importância
ainda maior.
Após
a crise econômica global que chegou ao auge em 2008, o Brasil desfrutou um
período de tranquilidade na disputa planetária por capital. As oportunidades
mundo afora tornaram-se raras, enquanto outros países tentavam sair dos
escombros da devastação econômica. Nesse cenário de terremoto pós-crise, o
Brasil seguiu oferecendo uma combinação fortíssima de oportunidades de negócio
e taxas de juro altas para premiar o investidor. Como resultado, atraiu
montanhas de dinheiro. Vieram a nós US$ 76 bilhões em investimento em 2012 e
algo por volta de US$ 60 bilhões em 2013. No mundo, só China e Estados Unidos
superam esses volumes. Só se aproximam desses níveis algumas outras poucas
economias privilegiadas, como Austrália e Cingapura. Os outros países em
desenvolvimento ficaram muito para trás. Esse cenário, porém, mudou.
A
Europa parou de afundar. O Japão voltou a crescer. Os EUA voltaram a crescer e
reduziram o ritmo de injeção de dólares na economia (o que barateava a moeda
americana e valorizava as outras, incluindo o real). Voltam a surgir, nos EUA,
oportunidades de negócios e a possibilidade futura de aumento de juros - eles
foram zerados durante a crise, mas serão necessários, em algum momento futuro,
para manobrar a inflação e incentivar a poupança. Mesmo alguns dos países
europeus mais abalados pela crise, como Irlanda e Portugal, voltaram, em 2013,
a atrair emprestadores.
Diante
dessas novidades, o capital internacional já começou a mudar a rota que vinha
seguindo nos últimos anos - e a mudança pode atrapalhar muito o Brasil. Um real
fraco é bom para os exportadores, mas encarece o que o brasileiro compra e
estimula a inflação. Por esses e outros motivos, não custa observar com algum
carinho o que vem ocorrendo nos países reunidos sob o apelido de Mint.
Pode-se
dizer que Mint ("menta", na tradução do inglês) é o novo sabor
oferecido aos investidores internacionais. A sigla virou moda nos círculos
financeiros em 2013. Trata-se de quatro países com populações grandes, número
ascendente de adultos pelas próximas duas décadas, localização geográfica
estratégica e a doce possibilidade de crescer por vários anos em ritmo forte e
regular. Tal é a situação de México, Indonésia, Nigéria e Turquia. Juntos, os
quatro têm mais de 600 milhões de habitantes. Oferecem oportunidades reais de
prosperidade a seus habitantes e aos estrangeiros dispostos a investir neles.
Todos competem com o Brasil por influência política global e pela atenção dos
investidores. Mas não sejamos mesquinhos — afinal, a economia internacional não
é um jogo de soma zero. O sucesso econômico dos Mints terá boas consequências
de ordem variada, como a redução da pobreza global, maior estabilidade política
para suas regiões e até mais oportunidades de negócios e trabalho para
brasileiros.
A
sigla foi usada de formas diferentes em 2010 e 2011 pela fabricante de
eletrônicos Panasonic e pela empresa de gestão de recursos Fidelity, ambas
referindo-se ao potencial dos quatro mercados. Mas só se tornou pop no ano
passado, ao ser usada por Jim O"Neill O economista afirma que os Brics,
especialmente a China, continuam oferecendo as maiores oportunidades de
investimento do mundo. Só que seu crescimento tende a desacelerar, em parte
pelo envelhecimento de suas populações. "Os Mints contam com uma
demografia fantástica", afirma O"Neill. "Eles têm não apenas
muita gente, mas também força de trabalho jovem e crescendo fortemente. Entre
os Brics, só a Índia tem essa vantagem."
Devemos
receber com elegância o fato de estarmos nos tornando um país mais velho e
aprender a jogar o jogo das expectativas. O Brasil receber um carimbo
depreciativo e a Nigéria, muito mais pobre, um rótulo auspicioso não significa
que um país seja melhor que o outro. Significa que a Nigéria vem superando as
expectativas que se tinha dela, fossem altas ou baixas. Nos últimos anos,
vários países em desenvolvimento, como México e Chile, colheram os bons
resultados por ter feito reformas importantes e avançado. O Brasil precisa
voltar a criar altas expectativas e mostrar disposição para cumpri-las.
Revista Época
20/01/2014
Ø
PESQUISA:
Em bons tempos o Brasil ficou
conhecido como um dos Brics. No ano passado, o Brasil entrou no grupo dos
Fragile Five.
1-
CITAR:
a-Os países que fazem parte deste grupo
b-O significado desta sigla
c-Porque estes países estão recebendo esta denominação?
d- Cite as outras siglas criadas pelos investidores financeiros para
fazer referência aos países que oferecem
risco ou oportunidade de investimentos: